Nossa ferida em relação ao dinheiro

Vivemos normalmente inconscientes e aprisionados na nossa relação com o dinheiro, possuímos crenças bem limitantes em relação a riqueza e a economia. Formamos um conjunto de crenças que podem nos levar a acreditar que felicidade e dinheiro são excludentes, assim como riqueza e honestidade, ou dinheiro e espiritualidade. Fomos acostumados a perceber a nossa vida econômica de forma desintegrada da vida como um todo. Vivemos hoje no mundo uma crise econômica ainda não resolvida, nem em suas verdadeiras causas e nem mesmo nos seus efeitos para a própria economia, ecologia, para a vida social e cultural. E quanto mais aprofundamos neste problema, maior e mais profundo ele parece. Será que existe uma saída?

          Vamos olhar este assunto do dinheiro mais de perto, a partir das lentes da nossa própria vida. Existem dois aspectos essenciais quando o assunto é o dinheiro em nossas vidas. O primeiro refere-se aos assuntos concretos e cotidianos das nossas finanças, a nossa conta corrente, contas à pagar, valores à receber, dividas etc. O segundo aspecto trata do lado psicológico e emocional da nossa relação com o dinheiro, do papel e significado que o dinheiro tem em nossa história e na nossa vida.

“ESTE PAPEL FUNDAMENTAL QUE O DINHEIRO TEM NA VIDA CONTEMPORÂNEA AINDA É POUCO EXPLORADO E COMPREENDIDO. PENSE NO SEGUINTE:  QUANTAS VEZES POR DIA VOCÊ PENSA NO “DINHEIRO” , NA SUA VIDA FINANCEIRA, TALVEZ PREOCUPAÇÕES, ALGO QUE CONQUISTOU E LHE TROUXE ALEGRIA E SATISFAÇÃO, COISAS QUE GOSTARIA DE TER OU FAZER E QUE AINDA NÃO PODE, UMA PESSOA QUE GOSTARIA DE AJUDAR, ENFIM, QUANDO O ASSUNTO É DINHEIRO AS POSSIBILIDADES PARECEM INFINITAS NO QUE SE REFERE ÀS NOSSAS NECESSIDADES, DESEJOS E VONTADES. ”

           Conversamos também bastante sobre o dinheiro, especialmente quando se trata dele fora de nós, na vida alheia, o dinheiro no governo, nos indignamos com a corrupção e as injustiças. Falamos também sobre o dinheiro do outro, sobre a ganância e mesquinhez alheias. E quantas vezes pensamos sobre a nossa relação com o dinheiro? Você já pensou sobre isto? Já refletiu sobre o verdadeiro papel do dinheiro na sua história de vida? Já pensou em qual é o modelo de lidar com o dinheiro que seus pais tinham? E o modelo, a lógica que você usa para tomar decisões econômicas na sua vida? Toda a nossa história, da nossa família, dos nossos pais e de toda a humanidade nos últimos milênios está intimamente ligada a este elemento, o dinheiro, que ora é tão desejado e ora até odiado. Quanto de alegrias, conflitos, guerras, privações, obras sociais, abundância, frustrações e sonhos ocorrem ou deixam de ocorrer através dele.  Algumas vezes tive a grata oportunidade de ajudar famílias, casais e empresas a lidar com diversas situações de conflitos em relação ao dinheiro. Estes conflitos costumam “sangrar” no sentido metafórico e até mesmo literal da palavra. Aprendi a perceber que quando tocamos neste tema, tocamos em uma dor, profunda. No início é comum muitos pensarem que o dinheiro é a causa destes conflitos, como se o dinheiro tivesse uma vida e vontade próprias ou ainda trouxesse ou contivesse o mal em si.

“ATRAVÉS DE UM PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO PERCEBEMOS QUE ESTES CONFL ITOS QUE PASSAMOS ATRAVÉS DAS NOSSAS QUESTÕES COM O DINHEIRO NA REAL IDADE REVELAM ALGO MAIS PROFUNDO SOBRE NÓS MESMOS E SOBRE NOSSAS RELAÇÕES COM AS PESSOAS.”

            Quem nunca se alterou ou se estressou com assuntos econômicos? Quem nunca teve conflitos internos ou com outras pessoas devido questões financeiras? Por que será que isto ocorre? Por que será que muitas vezes nem mesmo os casais e famílias costumam conversar abertamente sobre suas finanças e a vida econômica? Por que para muitos este é um assunto estressante e até dolorido? Estudos revelam que a causa central de 70% das separações conjugais está relacionada com questões financeiras. É como uma ferida que carregamos em nossa alma, uma ferida psicológica, nossa e de toda a humanidade. Esta ferida é alimentada através de três crenças fundamentais ocultas: “Não há suficiente; Mais é melhor; Você não tem escolha!”.

            Estas crenças geram em nós um sentimento frequente de medo da falta, ganância e de impotência. Nos vemos muitas vezes aprisionados, como se nossas decisões tivessem que estar sempre presas às questões econômicas. Esta ferida pode e já está sendo curada, através do desenvolvimento de uma nova relação nossa com o dinheiro. Onde reconhecemos o dinheiro como um facilitador de nossos sonhos, desejos e projetos. Ele não é bom, nem mal.  O dinheiro é.  Imagine, neste momento, o globo terrestre com seus sete bilhões de pessoas. Imagine todo o dinheiro que está circulando no planeta neste momento. Girando, gerando, criando, obstruindo e permitindo uma série de ideias, intenções e vontades. É uma energia extremamente poderosa e criativa.

“PRECISAMOS APRENDER A CONHECER, L IDAR E DOMINAR ESTA FORÇA, ESTA PODEROSA ENERGIA EM NOSSAS VIDAS. ESTE É UM CAMINHO MODERNO DE CONSCIÊNCIA, UM PROCESSO RICO E SIMULTÂNEO DE AUTOCONHECIMENTO, CONHECIMENTO DO MUNDO E DAS PESSOAS AO NOSSO REDOR. É UM PROCESSO DE CURA DESTA FERIDA EM NÓS, EM NOSSOS PRÓXIMOS E EM TODA A HUMANIDADE.”

Rodrigo Ventre

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INSTITUTO ECONOMIA VIVA COPYLEFT © 2017
COPYLEFT © 2017 TEXTO DE AUTORIA DE RODRIGO VENTRE
ECONOMIAVIVA.COM


 

ELISA ALKMIM

O LIDAR CONSCIENTE COM O DINHEIRO, O TRABALHO E A VIDA

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Jane Austen

Depois de Shakespeare, Jane Austen; se há alguma verdade universalmente reconhecida, é esta.

 

A amplitude dessa verdade, confesso, me assusta. Não apenas acadêmicos e leigos, homens e mulheres, adolescentes e crianças[1], puristas e fãs de filmes e séries de época que jamais abriram um dos livros; também supremacistas brancos que elegeram Austen como um exemplo de feminilidade, e também as sufragistas que carregaram cartazes com o nome da autora como exemplo de mulher revolucionária.

 

Jane Austen é tudo, para todos. Entretanto, no ano 2022, a Internet coletivamente parece concordar sobre um único assunto: a nova adaptação de Persuasion (Netflix) é ofensivamente terrível, horrorosa, um insulto aos milhares de fãs, Jane Austen está se revirando em seu túmulo!

 

Como fã e pessoa curiosa, fiquei intrigada. Esse discurso sobre o corpo reanimado de Austen retorcendo-se não é novo – foi a piada mais contada de 2009, quando foi lançado o livro Orgulho e Preconceito e Zumbis, e de novo em 2016, quando o filme de mesmo nome saiu. A Internet parece adorar um pânico moral e tem pretensões heroicas de defender a honra da autora.

 

Apesar de tanto pânico, tanto heroísmo, e apesar de morta há mais de 200 anos, Jane Austen permanece muito viva, e muito bem, obrigada, até hoje, e possivelmente sempre. Não faltam produções artísticas baseadas em sua obra – filmes, séries de televisão, streaming, séries online, livros, textos online, memes etc. Mais do que apenas reproduzir
histórias, personagens e temas, essas produções artísticas são o sangue vital que mantém vivo o interesse em Austen. Uma anedota exemplar, se me permitem:

 

Em 2019 ingressei como professora de inglês na rede municipal de minha cidade, no interior de São Paulo – 130mil habitantes em 150mil km2 e zero livrarias; a country village, um ambiente de fofoca, classes sociais demarcadas e falta de sensibilidade, com algumas pérolas perdidas por aí. (Soa familiar, leitores de Austen?) Este ano tive a seguinte conversa com uma aluna de 7º ano:

 

L.:    Professora, você assistiu Persuasion?

Eu:  Claro. O que você achou?

L.:   Gostei muito. É super divertido.

Eu:  Sabia que tem um livro também? (que é lindo, mas não sei se “divertido” é uma palavra que eu usaria para descrevê-lo)

L.:   Ah, eu achei mesmo com cara de fanfic.

 

Estonteei. Isso mesmo, L., isso mesmo – tem “cara de fanfic” porque é um fanfic, e um genialíssimo. O início do filme traz o título e o seguinte subtítulo: “Baseado na obra de Jane Austen”, e acho que, depois de assistir o filme várias vezes, “a obra” não se refere somente ao Persuasion publicado postumamente em 1818.

 

Quando pensamos na voz autoral de Austen, em quem estamos pensando? A biógrafa Claire Tomalin (1999:254)
nota que Walter Scott talvez tenha sido o primeiro a confundir o discurso indireto livre tão bem trabalhado por uma autora profissional com a voz de suas protagonistas de 20 anos. O estilo de Austen que reconhecemos mais
distintamente é jovem, animado, irônico, perspicaz – é o estilo de Elinor em Razão e Sensibilidade (1811), Elizabeth em Orgulho e Preconceito (1813) e de Emma em Emma (1815), mas certamente não é a voz romântica e cheia de arrependimentos de Anne Eliot em Persuasion (1818). O que o filme de 2022 faz que tanto ofendeu legiões de fãs dos livros é adotar a voz de outros romances de Austen para recontar seu último romance – uma liberdade de uso do material adaptado muito pouco comum em “adaptações”, mas muito comum em na prática de fanfiction.

 

Para quem nunca teve a felicidade de passar noites em claro em um certo site popularmente chamado de
AO3, fanfiction é uma obra transformativa feita por fãs e para fãs, e é uma prática tão antiga quanto continuar a história da Chapeuzinho Vermelho porque sua sobrinha ainda não caiu no sono e você precisa enrolar mais 15 minutos. Há um ponto de contenção aqui – primeiro porque o próprio AO3[2] reconhece fanfiction como texto escrito, e segundo porque Persuasion (2022) reconta o romance original de Austen, a maioria dos pontos da trama estão presentes. Por que um fanfic e não uma adaptação?

 

Adaptação é outra prática mais antiga que mudar o final de Chapeuzinho porque seu sobrinho começou a chorar de dó do lobo, ou de fazer um teatro de fantoches da história até então transmitida oralmente, ou uma peça teatral de um romance, ou uma série em streaming de uma HQ etc. Esse reconhecimento ou relação entre adaptação e obra adaptada, escreve Linda Hutcheon (2006) ao longo de seu livro A theory of adaptation, é parte do prazer que temos em uma adaptação. Há um contrato social/artístico entre a obra e o público já conhecedor da obra adaptada, uma negociação constante entre ater-se à obra adaptada – fidelidade, o zumbi de guarda que se revira no túmulo quando esta falta – e o criar sobre ela. Fanfics, por outro lado, rasgam esse contrato em favor de uma relação mais direta com o público – alguém mais acha Anne Eliot muito quadrada? (Eu!) Por que não a mostrar reagindo a sua perda como alguém de nossos dias, com garrafas de vinho e chorando no banho? (Ótima ideia!)

 

As distinções não são sempre claras, ou precisas, ou ponto pacífico entre estudiosos, fãs e/ou artistas. Se um filme pode ser fanfic, o que dizer de livros publicados tradicionalmente como Longbourn (2013), de Jo Baker, que usam a trama e personagens de Austen, mas do ponto de vista dos empregados? Ou de criações transformativas como o vlog The Lizzie Bennet Diaries? O filme Orgulho Preconceito e Zumbis (2016) traz mais referências à outras adaptações de Orgulho e Preconceito e ao próprio romance do que o livro de Seth Grahame-Smith; seria um fanfic do universo cinemático Jane Austen, ou uma adaptação do livro Orgulho, Preconceito e Zumbis (2009)?

 

O mais importante – e o que quero discutir no curso Orgulho e Preconceito: Adaptação e Fanfiction – a resposta dessas perguntas muda a sua apreciação por cada obra?

 

Isabela Sabbatini.

Agosto, 2022.


[1] Minha adaptação preferida em forma de livro é “Lizzy Bennet’s Diary”, de
Marcia Williams,

[2] Disponível em: <https://archiveofourown.org/faq/about-the-archive?language_id=en>

ISABELA SABBATINI

ADAPTAÇÃO E FANFICTION: ORGULHO E PRECONCEITO

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